Folhas de Chumbo

Como pode tanta incerteza pairar sobre folhas

Folhas pesadas como chumbo que nao voam

Deveriam, mas toda sua leveza sugada ja foi

E a copa da árvore da qual te abrigava com sombra

Já nao mais o faz, pois a tormenta passou

De quando sentaste embaixo para se abrigar do frio

A calmaria se foi e folhas de chumbo voaram

Deixando galhos que agora nao filtram mais nada

Insensíveis folhas que resolveram voar

Que fazer se não se deixar molhar pela chuva que agora cai

Arrancar os trapos que antes me defendiam

Já que a doce ilusão de proteção nunca me completou

Caminhar com os pés descalcos no barro gelado

Aquele que suja a grama antes verde

Mas a chuva ainda cai

Com a pele fria, gelada e dura, caminho devagar

Meus olhos queimam com o bater dos raios

Solares, sonoros, ingratos, cruéis

E meus olhos queimam e queimam

Não se pode ver, só sentimento de chuva

E ela ainda cai

Cabeça de chumbo, pesada

E porque essa nao voa?

Voa, mas quando em ares altos resolve cair

Resolve sentir o peso que antes a prensava contra a terra

Gotas de vidro flutuam e já nao são mais gotas

Facas que caem me cortam em tiras

Já não consigo mais caminhar,

Preciso correr, correr muito rápido

Até perceber que as facas nao são facas

Voltaram a ser folhas, leves, plumas

Que acariciam meu corpo, meu ser

E a chuva já não cai mais

Os raios que antes chicoteavam meu espírito

Voltam suaves e curam minhas feridas

Fazem aquecer minha pele, minha alma.

E agora nada mais cai. 

Meu corpo sobe...

...voa...

...paira sobre a copa da árvore.